sexta-feira, 19 de junho de 2009

A história dos cinemas do Barreiro.

A republica no Brasil foi considerada marco do progresso e da modernidade, exigindo a promoção de cenários adequados e cidades que superem o provincianismo imperial. O estado de Minas Gerais recebe missões a desempenhar no Brasil-Republica, como um lugar apto a receber e promover a modernidade.
Em meados do século XIX a capital mineira situava-se em Ouro Preto, essa região foi ocupada pelo bandeirante João Leite da Silva Ortiz que veio em busca de ouro. Em
1701 o bandeirante migrou para outras terras proximas em que estabeleceu a fazenda do Cercado, base do núcleo do Curral del-Rei, futura localização de Belo Horizonte e devido à atividade de mineiração as poucos a fazenda foi crescendo. Com o esgotamento das jazidas ouríferas a era do ouro durou somente até o século XVIII, as atividades como à pecuaria, a agricultura, a fundição do ferro e a extração de granito e calcário ganharam destaque. Estas e outras riquezas são os motivos do nome do estado ser Minas Gerais.
A antiga capital mineira, Ouro Preto, devido a sua localização apresentava grandes dificuldades de propiciar uma expansão urbana. Com seu relevo acidentado, suas ladeiras e ruas estreitas, os transportes e as comunicações eram dificultados. Possuia, ainda, pouca estrutura de saneamento e higiene que permitisse atender adequadamente sua crescente população. Gerando assim a necessidade da transferência da capital para outra localidade. Além disso, a proposição da transferência da capital mineira se deu principalmente pelo contexto político da derrubada do Império e fundação da República. A arquitetura ouropretana possuía uma série de símbolos e marcas do passado colonial, que os republicanos queriam deixar no passado.
A construção de uma nova capital, planejada de acordo com essas exigências, tinha como objetivo o progresso. Seria a solução para o problema do crescimento, como também resolveria o problema de ordem política. Não se tratava de apenas uma simples transferência de capital, mas sim uma nova cidade, planejada segundo os valores modernos. A nova capita seria o símbolo de uma nova era.
O local da construção da nova capital foi o Curral del Rei, pois “possuía qualidades climáticas e topográfias excelentes, oferecendo as condições adequadas para o que se previa no projeto da nova capital” (SOUZA, 2007, p. 10).
Inicialmente, a nova capital foi chamada de “Cidade de Minas”, mas logo passou a ser chamada de Belo Horizonte. A cidade foi projetada entre 1894 e 1897, pela comissão construtora chefiada pelo engenheiro Aarão Reis. Belo Horizonte foi a primeira cidade brasileira moderna, planejada e inspirada em cidades cosmopolitas como Paris (França) e Washington (Estados Unidos), que neste contexto, eram os grandes símbolos urbanos de civilização, que referiam aos ideais modernos e civilizados. Com ruas retas e avenidas largas em diagonal a cidade crescia e expandia vertiginosamente, que acabou dando margem e condições para o desenvolvimento de bairros e consequentemente para a movimentação de mercadorias diversas através de comércios. Aos poucos, pequenas fábricas instalaram-se, a energia elétrica ampliou-se, os transportes melhoraram e itensificaram, dessa forma, começaram a surgir praças e jardins que deram a cidade um novo panorama à paisagem belorizontina.
O desenvolvimento da nova sede de poder, foi intenso, que consequentemente aumentou o número de empregos, o que atraiu a vinda de novos habitantes. Nesse momento, a vida social e cultural começaram a se agitar. A indústria logo ganhou impulso na década de 1920, levando ao desenvolvimento ecônomico, fator que gerou e inaugurou um preríodo de grandes obras. Entretanto, o rápido crescimento não estava planejado, e com os novos bairros surgiram também os primeiros problemas urbanos.(SOUZA, 2007)
O bairro Barreiro é mais antigo do que a própria cidade de Belo Horizonte. Sua origem teve como marco cronológico, o ano de 1855, quando o Coronel Damazo da Costa Pacheco estabeleceu-se como colonizador e possuidor de terras no "Distrito e Freguesia do Curral Del Rey", denominada Fazenda Barreiro. A fazenda acabou sendo vendida ao Major Cândido José dos Santos Brochado, defensor da escravidão, quando o Coronel Damaso resolveu mudar seu ramo de atividade. Posteriormente, devido ao assassinato do Major por um escravo fugido, a família vendeu o lugar para o Sr. Manoel Pereira de Melo Vianna.
Ao chegar com sua equipe para construção de Belo Horizonte, engenheiro Aarão Reis interessou-se pela qualidade da água da região do barreiro, pois, se tratava de uma região com grandes fontes aquíferas, que despertaram interesse dos projetistas da nova capital, em utilizá-la no abastecimento de água potável, para os citadinos.
Anos mais tarde, a construção de uma linha férrea atrairia novos moradores para a região, provocando uma constante urbanização da paisagem. Já no final dos anos 1940, o governo do Estado intermediou negociação entre os proprietários da Fazenda Barreiro e um grupo estrangeiros, por meio disso, toda aquela área foi cedida para construção da primeira grande indústria de Minas Gerais, a Companhia Siderúrgica Alemã Mannesmann, marco de desenvolvimento não só do Barreiro, como também de toda a capital. Desde então, o Barreiro tornar-se-ia uma vila modernizada, industrial e operária, transformando por completo antigo aspecto rural, no sentido social, econômico e urbano. Portanto, à época essa região era ocupada também por imigrantes estrangeiros que vinham prestar serviços na região, trabalharam na construção e crescimento da nova capital e a influência dos imigrantes ainda é bem marcante nas familias tradicionais da região do Barreiro, muitos bairros levam sobrenome desses imigrantes, como por exemplo os portugueses Teixeira Dias, originou-se um bairro com este nome. Os Teixeiras Dias são uma antiga família que na época eram donos das terras em que existiam fazendas na região.
Nas décadas de 1910 e 1920, a cidade começa a vivenciar um verdadeiro processo de desenvolvimento. Decorrente deste processo surgiu entre os moradores vários espaços de sociabilidade, muitos deles, ocupados por grupos sociais específicos. Estabelecimentos como bares, cafés e casas de orquestra e espetáculos, instalavam-se com maior freqüência na cidade. Lugares que ofereciam entre bebidas, comidas, apresentações artísticas e, claro, muita diversão. Estes lugares tornaram-se pontos de encontro, de integração, de alegria e de entretenimento. Onde os seus adeptos membros reconhecem-se uns no outros, revelando um grupo identitário.
Segundo o autor francês Michael Maffesoli (1984; 1995), estudioso das formas de relacionamento social, observa que, são a partir das mínimas atitudes cotidianas e sociais, que as relações se evidenciam e que dessa forma, podem contribuir para o estudo e a compreensão da sociedade como um todo. Explicitando ainda, sobre a importância do espaço, onde se passa a vivência da ação, entendendo é o espaço que estrutura as situações vividas e sejam elas, de pluralidade, de imoralismo e de momentos lúdicos. Reafirmando que o hedonismo de todo dia precisa de um território para se desabrochar (MAFFESOLI, 1984, apud FERREIRA, 2000).
O processo de sociabilidade acontece nos espaços destinados aos pontos de encontro da sociedade, os grupos sociais encontram-se pelos mais diversos motivos.

No espaço compartilhado pelos grupos sociais ocorrem intensamente as relações de troca do processo de sociabilidade, trocas essas não entendidas apenas na maneira mensurável, mas, sim, de permuta de valores, culturas, hábitos, crenças, sonhos. Salientando a troca como um dos pilares estruturais da sociedade, Maffesoli afirma que as relações sociais baseiam-se numa “harmonia diferencial”, pois só há troca se houver diferença, daí a possibilidade de ocorrer o intercâmbio entre as pessoas e suas especificidades. (FERREIRA, 2000, p. 19)

A cidade se expandia, ligando regiões mais distantes ao sistema ferroviário, transformava-se a cada momento, com a abertura de novas avenidas, ruas asfaltadas que se tornam principais vias para o acesso da região central. A expansão foi intensa, principalmente no que se refere às áreas de projetos arquitetônicos como, por exemplo, a lagoa da Pampulha, que foi construída no início da década de 1940, quando o prefeito era Juscelino Kubitscheck. Para compor o seu entorno o jovem arquiteto Oscar Niemeyer projetou um conjunto arquitetônico que se tornou referência e influênciou toda a Arquitetura Moderna Brasileira.

A cidade expandiu-se febrilmente, não apenas na direção da Cidade Industrial e de seus bairros operários, mas também em áreas residenciais e de lazer para as elites, entre os quais a Pampulha, que, por sua expressão arquitetônica de impacto internacional, representou um paradigma maior (MONTE-MÓR, 1994, p. 17 apud NASCIMENTO Alexandra, 2004).

Na região do Barreiro, a Companhia Siderúrgica Mannesmann, o Distrito Industrial do Jatobá, as novas áreas industriais do bairro Olhos D’água e a proximidade com a Cidade Industrial, na cidade de Contagem, foram os grandes responsáveis pelo desenvolvimento e intensa diversificação comercial e de serviços, proporcionando-lhe relativa independência do centro belo-horizontino. (SOUZA, 1986)
A proposta desta pesquisa é analisar, compreender e explicar, os processos de sociabilidades decorrentes do processo de crescimento e desenvolvimento da cidade de Belo Horizonte, especificamente no direcionamento da óptica de análise historiográfica, para o estudo dos cinemas da região do Barreiro.
Para tanto, julga-se pertinente abordar alguns cinemas do centro da capital como, por exemplo, o cine Odeon, que foi um dos primeiros cinemas da cidade, inaugurado por volta de 1906, onde o cinema Odeon, no seu momento inaugural, recebeu a denominação de teatro Paris. Como prática, comumente à época, associavam-se ao cinema, salões, confeitarias e cafés, ou seja, verdadeiros espaços de relações culturais e de sociabilidades. O cinema Odeon foi considerado um centro de sociabilidade, especialmente atrelado às vivencias dos grupos elitistas, pois como ilustra SILVA 1995[1], circulavam em seu interior, importantes nomes da sociedade.
O cinema[2] é arte, cultura, espetáculo, divertimento, indústria técnica e local onde as pessoas encontram-se e se sociabilizam, além de desempenhar novas funções para a vida cultural da cidade é também um marco de desenvolvimento, que imbrica tradição e modernidade (SILVA, 1995).

Na Belo Horizonte dos anos 40, o cinema era festejado como “a grande diversão, a popular, a accessível a todos, a que todos gostam(...) o segredo é que ele pode proporcionar de certo modo, todas as sensações. Em Belo horizonte o cinema é essencialmente a diversão. “Onde a cidade se diverte. O cinema é ainda grande distração popular (SILVA, 1995, p.52).

No centro da capital a modernização caminhava rápida e os recursos de se morar em Belo Horizonte estavam gerando mais gastos. E o Barreiro não foi diferente. Embora com menos requinte, também ganhou seus espaços de notoriedade e de socialização. Neste contexto, os cinemas tiveram grande relevância na história para Belo Horizonte, como um todo, bem como, para a região do Barreiro.

A vida cultural da cidade também diversificou-se, além dos tradicionais “footing” bares, cafés e cabarés a cidade começou a colher formas de expressão artística modernas... “mestre da cultura popular o cinema foi penetrando nos diversos bairros que estavam em pleno desenvolvimento.
(SILVA, 1995, pp. 52-53)

Este trabalho tem como foco científico, estudar a importância do cinema, na vida social e cultural, dos moradores do Barreiro.

Compreendemos que muitos pesquisadores já abordaram e elaboraram estudos sobre a temática do cinema. Entretanto, este estudo tem como objetivo de contribuir para suprir as lacunas existentes sobre as pesquisas já oficializadas sobre o estudo dos cinemas. A originalidade desta pesquisa está relacionada com a importância da efetivação e do registro da memória dos moradores e freqüentadores através dos estudos realizados sobre os cinemas da região do Barreiro.
Proponho nesse momento fazer um breve levantamento da questão do cinema, que se consolidou como motivação á vida social que saiu das restritas salas de exibição para a propagação e consagração de uma diversão popular. O cinema evoluiu tecnicamente e cativou ao longo do tempo, muitos espectadores, além de ter sido, um ponto de sociabilidade da população do Barreiro.
O cinema traz o conhecimento de culturas até então estranhas e desconhecidas, assim permitindo a aproximação com a nossa realidade, bem como apontar as particularidades de cada povo, seus costumes e tradições. O cinema tem grande capacidade de levar o conhecimento de varias linguagens. Segundo Grame Turner (1997), o cinema tem o poder de trazer e realizar descobertas e conhecimentos de culturas distantes produzindo relações sociais e culturais entre os freqüentadores de um mesmo cinema, pelo fato de transmitir, várias linguagens, tanto textuais como visuais e que estão de forma explicita nessas práticas de sociabilidades.
Entre meados do inicio da década de 1960 e o final década de 1970, surgiram no Bairro Barreiro, dois cinemas. Um localizado na Avenida Olinto Meireles, chamado Cine Barreiro. E o outro, cujo nome ainda é desconhecido e tornando então objetivo desta pesquisa investigá-lo. Entretanto, a sua localização já foi elucidada, tal cinema se localizava, na Rua Desembargador Ribeiro da Luz.
Que ao longo dos anos, a memória da história dos cinemas (como também a própria história do Barreiro) vem sendo negligenciados, desde a sua fundação até o seu fechamento, sem que fosse feito algum registro desse processo de transformação.
No livro “O fim das coisas” (SILVA, 1995), está retratado a trajetória de vários cinemas, desde a abertura ao fechamento, inclusive com registros iconográficos. Contudo, os estabelecimentos do Barreiro não são abordados neste trabalho.
É importante estudar a relevância do cinema, como espaço que contribui para as práticas de lazer, da veiculação e disseminação da cultura.
O estudo sobre os cinemas do Barreiro é bastante relevante, pois através desse projeto de pesquisa, tem a possibilidade de contribuir para suprir as lacunas existentes sobre essa temática, que por meio dessa construção, poderemos resgatar e registrar a memória dos freqüentadores desse referidos cinemas.
[1] O Fim das Coisas. Belo Horizonte: Prefeitura Municipal de Belo Horizonte; Secretaria Municipal de Cultura, 1995. Livro que faz um panorama dos cinemas de Belo Horizonte.
[2] A palavra cinema origina-se do cinematógrafo, invenção dos irmãos Lumière, que vem do grego “kinema”, movimento e “ghaphein”, registrar. Cinema significa registro do movimento, e pode ser definido como a arte de produzir imagens em movimento.

sexta-feira, 22 de maio de 2009